5.2.13

Amarração ou Amarrações : Feitiço e Magia do Amor - Tudo aquilo que precisa de saber (Parte 2: História das Amarrações - Magia do Amor)

Tendo no post anterior introduzido de forma simples alguns dos pressupostos para toda esta série de posts. Será agora importante uma contextualização da Amarração, não só no contexto actual, mas também dentro da história da própria Magia. Aproveito desde já para actualizar os livros e fontes que disponibilizo para Download, pois neste e nos posts subsequentes irei colocar algumas fontes que me parecem importantes para quem quiser ler, estudar ou melhor se informar.

Tal como havia referido em um post anterior, a Magia Cerimonial hoje practicada tem origem nas Tradições Mágicas Antigas. Estas tradições têm origens muito remotas desde as antigas civilizações. Todavia, os primeiros registos históricos que hoje nos chegam datam da entitulada Antiguidade Clássica. Deste um dos mais importantes são os antigos papiros Egípcios.

A História da Magia do Amor já vem relatada no Antigo Egípcio, os Egípcios recorriam às Entidades para alcançarem os seus desejos Afectivos. Encontrando-se ai fontes dos rituais Mágicos por eles utilizados, que curiosamente apresentam uma estrutura similar à que hoje em dia se pratica.

Contudo, as fontes mais interessantes e detalhados sobre a história da Magia do Amor encontram-se no princípio da Tradição Helénica, e da Cultura Greco-Latina mais tardia. Nestas fontes encontramos não só rituais devidamente descritos, bem como os fundamentos que subjaziam a esse rituais, assim como o entendimento social desse tipo de Magia na Sociedade. Curiosamente, alguns dos mitos que hoje encontramos, já se encontravam presentes em preconceitos gregos sobre essa própria Magia.

Um desses preconceitos dizia respeito ao facto de serem apenas as Mulheres a recorrer a tais recursos em ordem a conquistar os seus entes amados. Contudo, uma investigação muito interessante pelo Prof. Dickie revela que os homens recorriam tanto a esses feitiços como as mulheres. Recomendo a leitura deste artigo: «DICKIE, M. "Who practised love-magic in classical antiquity and in the late Roman world?" In: The Classical Quarterly, Cambridge Journals, 50, 2000, pp. 563-583.».

É importante ter em conta que a língua Grega distingue três palavras específicas para a nossa palavra Amor. Para além das típicas combinações, os Gregos não utilizavam o termo e não pensavam o conceito como nós. Então de forma simples os Gregos consideram três conceitos:

  1. Philia (que pode ser conceptualmente traduzido por Amor de Amizade ou de filiação, desta palavra chega-nos de forma imperfeita na nossa linguagem os conceitos de amizade a algo, como por exemplo: Columbofilia, Algofilia, etc.)
  2. Eros (que pode ser conceptualmente traduzido por Amor Sexual ou todos os aspectos da sexualidade mas intrinsecamente ligadas ao Amor, como por exemplo a descrição em Língua Portuguesa de Sexo como «Fazer Amor» ou «Relação Amorosa». Este termo está presente na nossa linguagem como: Erotismo, Erótica, etc.)
  3. Ágape (que pode ser conceptualmente traduzido por Amor Perfeito ou Puro. Neste termo encontra-se o amor de reciprocidade, de uma amor que representa fidelidade, altruismo, entrega total, amor genúino e puro. Infelizmente este termo não se encontra presente na nossa linguagem, e quando aparece está ligado ao contexto religioso cristão, como por exemplo naquele livro pateta que podemos encontrar em qualquer livraria ou na estante da Fnac de um Padre vestido de Franciscano.)

Agora, o leitor pode estar a questionar-se sobre o porquê de ser importante expor estes termos. A resposta a isso prende-se com a importância de compreender melhor a Amarração no contexto Helénico, bem como o de ser uma alavanca para a sua compreensão hoje em dia.

Por conseguinte, agora podemos entender que a Magia do Amor nos seus primórdios Helénicos encontra o seu contexto de inteligibilidade nestes três conceitos. E mesmo estes conceitos foram sofrendo diferentes entendimentos ao longo da história Grega e da nossa. Como já mencionei em cima, as diferentes religiões Cristãs aproveitaram-se esta divisão conceptual para difundir as suas crenças sobre um Amor Divino e um Amor Terreno, tal como para demarcar o que os homens deveriam seguir. Mas o mais importante é que toda a Magia do Amor subsequente encontra nestes ritos a sua origem.

Contudo, antes de avançarmos será importante ver como estes três conceitos tiveram impacto na História da Magia Cerimonial Helénica.

Comecemos pelo conceito de Eros (que já em cima resumi), durante o período clássico ele tanto foi entendido como uma força poderosa que curava e que permitia aos homens elevarem-se, assim como foi entendido como uma doença e um veneno do qual deviam de se abster (interpretação dada e seguida ao longo da história por parte do Cristianismo que procurou reprimir o prazer da sexualidade). Este Eros não era considerado somente no abstracto, mas no concreto na realidade do amante (entendido como aquela que projecta amor) e do amado (entendido como aquele que recebe e pode ou não corresponder ao Eros do amante). Um desses exemplos e um livro clássico da nossa cultura como da Magia é o Fedro de Platão (carregar no link para aceder a ele). Ao contrário daquilo que o senso-comum nos informa sobre o dito «Amor Platónico», a saber, uma versão naive e errónea daquilo que realmente encontra-se descrito em Platão, para este é uma força poderosa que está ligada principalmente à ética e ao idealismo Platónico. Nesse livro, poderão encontrar uma narração bastante interessante sobre um amante e um amado (na história ambos do sexo masculino) mas que pode ajudar a melhor compreender como era o Eros concebido em mais detalhe naquele tempo.

Contudo, aquilo que pretendo chamar à atenção é nesta polaridade do conceito de Eros, que simplificando tanto podia ser uma cura como uma doença. Similar ao termo grego Pharmakoi, do qual herdamos a palavra fármaco ou medicamento, que tem um duplo sentido em Grego, ao contrário do nosso. Pois este termo Grego tanto significa literalmente cura como veneno.

Por conseguinte, estamos aptos a perceber o porquê de na história da amarração e da Magia do Amor, nos ritos Gregos encontramos o Eros como uma Doença e a Magia do Amor uma maldição, coisa que infelizmente ainda hoje perdura granças ao preconceito Cristão que tomou esta doutrina para condenar as Amarrações e Magia do Amor. Por outro lado, também encontramos nos ritos Gregos o Eros como saudável e a Magia do Amor como uma Cura ou um Fortalecimento. Neste último sentido, as Amarrações não eram condenadas e procuradas como forma de se encontrar cura para a nossa existência, e assim uma vida mais feliz. Recomendo para quem desejar aprofundar este tema a leitura do capítulo 8, páginas 214-234 deste livro, basta carregar no link: «OBBINK, D. (ed.) - Magika Hiera: Ancient Greek Magic and Religion. Oxford: Oxford University Press, 1991.»

Prosseguindo, deste Eros vem um dos tipos de amarração (este tópico será desenvolvido em subsequentes posts) que infelizmente anda muito desinformado, chamado de Domínio Sexual. Este tipo de amarração visava não manter uma relação amorosa estável com o Alvo (como no ágape), mas apenas alcançar o objectivo de se conseguir uma relação erótica com alvo. Importa sublinhar que neste contexto, os ritos e as descrições mágicas dos mesmos não comportavam exclusivade, ou seja, não visavam que a pessoa alvo à qual o comendador desejava manter relações sexuais fosse somente fiel ao comendador. Para quem desejar aprofundar parte deste tema recomendo a leitura das páginas 41-94 deste livro, basta carregar no link: «FARAONE, C. - Ancient Greek Love Magic. Cambridge: Harvard University Press, 1999.»

Por outro lado, a partir do philia surge um tipo de amarração bem diferente daquilo que vulgarmente hoje se entende. Esta trata-se de uma Amarração de Amizade ou Amarração de Afectos. O objectivo desta, era a criação de um laço profundo de amizade e de afeição que podia ou não originar uma relação sexual ou uma relação amorosa, mas que tinha como fim último uma aproximação entre pessoas diferentes e a cessação de hostilidades entre elas. Os termos clássicos podiam ser conceptualmente traduzidos como «suavizar os corações» ou «ligar o que anda distante». Secalhar atrevo-me a traduzir para os dias de hoje como uma Amarração Soft. Um vínculo perpetuo de amizade, entreajuda e cumplicidade. Para quem desejar aprofundar parte deste tema recomendo novamente a leitura do mesmo livro mas nas páginas 97-131, bastando carregar no link do livro:«FARAONE, C. - Ancient Greek Love Magic. Cambridge: Harvard University Press, 1999.»

Por último, a partir do Ágape surge aquilo que mais se assemelha ao entendimento geral de amarração. Esta tratava-se de criar um vínculo afectivo perfeito entre o alvo e o comendador. Ou seja, criar a possibilidade de uma verdadeira relação amorosa. Contudo, este tema vai ter de ser tratado em mais detalhe nos subsequentes posts.

Finalmente queria chamar à atenção para uma bom livro para melhor se compreender a História da Magia durante este periodo. A saber, este livro do Prof. Dickie, bastando carregar no link do livro: «DICKIE, M. - Magic and Magicians in the Greco-Roman World. Nova Iorque: Routledge, 2001».





Sem comentários:

Enviar um comentário